16/03/11

entre a sombra e a claridade

Estou cansado
e morto por parar nesta subida…
Dura é a vida
em que tanto naufraguei
colado ao chão!
Fartei-me de percorrer as veredas
entre a sombra e a claridade
em busca da razão
e da verdade.

E que encontrei no fim da linha
do horizonte
onde este se funde com os Céus?
Falta de tudo! Vede:
Sempre a falta de Deus
como água fresca da fonte
onde pudesse mitigar a falta disso tudo
e a minha sede.

13/03/11

13.ª edição do Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama


Organizado pelas Juntas de Freguesia de Azeitão (S. Lourenço e S. Simão), tem a parceria da Câmara Municipal de Setúbal, da Associação Cultural Sebastião da Gama e da Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense.

A 13.ª edição do Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama está em curso, podendo os trabalhos ser entregues até 31 de Março.

O trabalho que venha a ser premiado (em sessão que decorrerá em 5 de Junho, Dia Mundial do Ambiente), além do valor pecuniário, terá também incluída a sua publicação a cargo da organização do Prémio.

O Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama foi certame criado em 1988, em Azeitão, pelas Juntas de Freguesia de S. Lourenço e de S. Simão.

agora, que as minhas mãos de amar…

…já estão vazias
e são estátuas de vidro em reflexão
deixai em paz o coração
que frágil tece a teia em que ainda
quer apenas viver por frágeis dias

abismo profundo em névoa
se desvanece
e um raio em ira que fende o céu
em dois cai quase a prumo
e atordoa e fere e mata
e enlouquece
mas não perde este Homem do seu norte
o rumo

castração

Castrou-me o sonho.
Desvirtuou-me o que pretendi
ser.
Escureceu-me a memória
na azáfama dos dias
(do) que pretendi viver.

Dialoguei imaginários devaneios
em silêncios sábios
de Luz, fugazes.
Naufraguei nas margens do nada,
inventei-me
em ânsias de viver
audazes,

atolado e imóvel

Persegue-me uma subtil Luz
no fundo do túnel
onde me encontro
afogado.
Imóvel
nesta terrível procura,
algo em mim se recusa a sair
das areias movediças
em que me vejo atolado.

10/03/11

Não posso adiar!

Não posso adiar por mais tempo o meu grito.
Deixem-me gritar.
Deixem-me estas amarras romper.
Não me roubem o meu grito
nem a possibilidade de gritar
e dizer.

(...)

Não posso adiar por mais tempo o meu grito.
Não posso!
Não me amordacem
que eu não me deixo por ninguém amordaçar.
Deixem-me só mas com a minha liberdade…
Não me impeçam de gritar.

Não me enlouqueçam…

…nem ais, nem gritos de raiva, nem dores
nem estrondos de granada.

Deixem-me antes nas sombras
sozinho, sem nada.

Despido de tudo, de tudo, mas mesmo de tudo!
Deixem-me apenas com a palavra
e papel e caneta para gritar
o meu grito sem lágrimas nem ais.
Deixem-me apenas isto
e nada mais.

É preciso mudar as telas

as cores as letras
da vida
é preciso mudar o amanhã
é urgente mudar o amanhã
e encerrar de vez estas entranhas
que doem de revolta e cansaços.

É preciso acabar com os elogios
que não servem
de nada
é preciso continuar a gritar
é preciso percorrer e desvendar
os caminhos da verdade
com firmes passos.

Não me vendo

jamais me venderei
nem mesmo dentro do caixão.
Haja o que houver!
Sei
que é nesta perdição
pecaminosa
que me vou perder.

Busquei na vida
a luz que nunca vi
e me prometia o eterno.
Nessa busca incessante
me perdi
e tive como resposta
o regresso
às sombras deste inferno.

Inutilmente a manhã na fronte

perde-se
em rugas de sulcos fundos
que repousam seus gentis gomos
nos cílios fluviais dos trilhos das margens
duras da vida

Ao lado o rio que corre…
E inutilmente o ciclo que arrefece
(...)
chicoteado pelo esquecimento
Ali gesticulam efémeros gestos de prazer…

Ali, a dádiva emprenha o ventre virgem
no galopar do vazio do tempo
(...)
da noite que só
álgida
se cobre da ausência da luz

A noite trazia aragens

e orgias de medo
no voo frenético dos sexos

… e eu,
solitário com os ossos nus do crepúsculo
a esvair-se em rubro sangue…

Pressinto o mar à distância e os sulcos
da chuva ácida
queimam-me as veias
e estiolam-me os ossos

Prolegómenos sobre “Na Teia do Esquecimento” de Antero Jerónimo

Doem-me as mãos com que te escrevo estes versos… É do peso da espingarda, é do canto que se obrigam a escrever ...