13/01/19

LADO a LADO


Lado a lado, sem pretensões a coisa nenhuma ___apenas, "LADO a LADO"___
T. S. Eliot e Adriana Mayrinck (em In-Finita)


V. O QUE DISSE O TROVÃO

Uma nascente
Uma poça entre as pedras
Se ao menos houvesse o som da água
Não o canto da cigarra
E da erva seca
Mas o som da água numa pedra
Onde o tordo-eremita canta nos pinheiros
Drip drop drip drop drop drop drop
Mas não há água

Quem é o terceiro que sempre caminha a teu lado?
Quando conto, só estamos tu e eu
Mas quando olho pela estrada branca acima
Há sempre alguém a caminhar junto de ti
Envolto em manto castanho, e embuçado
Não sei se será homem ou mulher
¾ Mas quem é esse do outro lado de ti?

·         T. S. Eliot, 1888-1965 (in A Terra Devastada, Relógio D´Água)
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RELÍQUIA

Dizes que não posso ser ziguezagueante, em seu ir e
vir.
Como posso viver às cegas, dentro do teu espaço,
se por aí sou volátil.
Amo fincada às tuas raízes, ainda que o amanhã
seja substância e efemeridade.
E a tua mão não mais está.

Há uma sombra oculta nas entrelinhas das intuições.
Armadilhas em areia movediça, distancia-me do
ontem.
E sigo em linha reta no caleidoscópio mutante
de que aprendi a viver.
O tempo consome em pó, guilhotina, grito.
Quando chegavas do teu deserto
com um brilho diferente no olhar,
toda a inquietação levava ao êxtase, flor e mel.
E ao fundo do mar. Guardo relíquias.

O tempo consome em distância, certezas abstratas
e silêncio.
Mas hoje amanheceu com um sol fulgurante
e ofuscou a tua lembrança.
Caminho sem tocar o chão, des-acompanhada.
E levo o incomensurável da palavra amor.
Carrego no olhar, pedra, fogo e mar.

·         Adriana Mayrinck, 1970 (in In-Finita, Dowslley Editora)

Prolegómenos sobre “Na Teia do Esquecimento” de Antero Jerónimo

Doem-me as mãos com que te escrevo estes versos… É do peso da espingarda, é do canto que se obrigam a escrever ...