19/11/18

das PALAVRAS INCONFORMADAS, de Isabel Bastos Nunes em "À PROCURA DE MIM"


das palavras inconformadas, de Isabel Bastos Nunes em "À PROCURA DE MIM"
Alvaro Giesta, autor

[(...). É difícil, em poucas palavras, escrever-se um grande poema do qual se possa intuir sobre a verdade ontológica da poesia ¾ isto é, se dela se pode conhecer "tudo" quando ela se limita ao questionamento directo do óbvio, ou se "nada" se pode conhecer de todo o abismo que envolve a palavra poética, interrogando-a e interrogando-se, questionando-a e questionando-se numa tentativa de resposta, pondo em causa a sua obscura natureza quando o não-óbvio está presente no texto poético.
(...)
          Difícil é também escrever um longo poema em que não é apenas o tamanho que lhe confere grandeza,  mas o valor ontológico que em si está contido, em que o poeta consegue dizer ao longo dele, o que ele julga ser tudo, sem se perder nem desviar do pensamento que pretende transmitir. É aqui que se enquadra a poética de IBN.

          A sua poesia é o lugar, não da probabilidade mas, da afirmação, da capacidade de dizer aquilo que a palavra quer dizer sem necessidade de recurso às metáforas e às imagens, que têm a função imagética de ocultar o óbvio para tornar o texto poético mais apetecível, porque alindado e ornamentado pela capacidade que as figuras estilísticas têm, de tornar o texto mais belo ainda, tornando-o, a elas afeito, confuso e preso a um certo grau de dificuldade para o seu entendimento. ¾ E eu falo aqui da poesia que dela conheço por leituras feitas não apenas ao título mas, também, ao que deixa nas redes sociais, porque falar somente do conteúdo da obra, é afirmar por defeito; mas não posso deixar de dizer que À PROCURA DE MIM é, talvez, a melhor obra que eu li até hoje sobre este mistério: O ENIGMA DO SER, onde é presença constante lado a lado com o Sujeito-poético e o Objecto-poético (o Eu e o Outro),  o Silêncio, a Solidão, o Tempo, a Vida, as Palavras, o Sonho e os Medos, e até a voz da Ilusão.

          O enigma do ser repete-se ao longo de "Procuro o Teu Olhar" numa entrega silenciosa ao "outro ser", mas com a voz presente e activa do sujeito-poético que a todo o tempo se dá como se numa vontade de não-ser ¾ «e tu e eu não queremos acordar» ¾ aqui, na terra, mas na eternidade para além do que está além do impossível. Nesta utopia, diz-nos a autora, «somos dois instantes feitos de eternidade / e a essência dos nossos sonhos / não se prende no impossível».   Podemos dizer que em IBN, neste mistério da existência, o sonho existe como uma ânsia de fuga à realidade ¾«não queremos acordar»¾ para o refúgio e abrigo na eternidade, no impalpável, no inconcreto ¾«somos dois instantes»¾, onde o nada-ser sequer é impossível  para a concretização do sonho.

          A poética de IBN não tem sombras transgressoras ornamentadas pelo símbolo a ocultar-nos a luz. A sua poética é luz e é tempo, é paz e silêncio, é sonho, é mistério, é enigma e lugar também. É, afinal, a natureza pura das coisas que os olhos veem e o coração sente (...).
          Nisto, descobri eu IBN nas palavras que nos deixa quer em verso, quer em prosa com sabor a poesia, quando vagueia dentro de si em comunhão com o tempo, com o silêncio,  com a solidão e com o mundo. As palavras de IBN revelam profundidade partindo da superfície das coisas (...)].
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(extractos) - direitos reconhecidos




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