Introdução
Das leituras feitas a
várias das obras de Teixeira de Pascoaes (não tantas como desejaríamos, dada a
impossibilidade de as encontrarmos no mercado livreiro nacional, mesmo correndo
o risco oneroso de busca e compra nos antiquários e alfarrabistas do país ou
até, onde com mais facilidade as encontrámos, no estrangeiro), algumas leituras
por inteiro e noutras, apenas, de trechos julgados pela pertinência para o
objectivo em causa, com dificuldade extrema estabelecemos propósito definitivo
de começo -
que muitos poderiam ter sido - para esta aproximação de estudo, que
porventura rondará em trabalho nenhum comparável com os de vultos de grande
fôlego que por aqui nos vão servindo de fonte e de guia. Porque tantas são as
janelas por si deixadas abertas à aproximação para possíveis caminhos a
percorrer em análise, nos assalta, assusta e quase coíbe o medo de nos
perdermos e jamais nos encontrarmos nesta noite de longas sombras e de caminhos
insondáveis em busca da luz. Depois de várias reflexões, a coragem nos
impulsionou a, aqui, decidirmos falar do Pascoaes que a muito poucos interessa,
hoje, tal como não interessou, no seu presente-passado, a muitos dos seus pares
contemporâneos mas, se espera, passe a interessar no futuro -
é o Pascoaes que na sua concepção do seu mundo fantástico e em delírio
procurou, no sentimento-ideia da saudade, a solução filosófica para o
reencontro de Portugal consigo próprio para voltar à identidade perdida.
[À
frente, no enquadramento da crítica a Pascoaes dos versos da saudade, à "identidade
perdida" reportar-nos-emos, em breves linhas, à situação histórica de Portugal,
integrada na da Europa, nos anos pós-nascimento do poeta.]
Ainda que, nos dias de hoje, seja impossível
estar de acordo com a ideia de que o "Saudosismo" -
a sua maneira genuína de ser português - é basilar para
o «pertencimento pátrio», não podemos deixar de o examinar dentro do contexto
da época, fora do qual o seu sentido é adulterado. E "Saudade" será a
palavra que abre este trabalho, por onde navegaremos em leituras que sabemos,
desde logo, de difícil acesso e obscuro entendimento; "Saudade" será
a palavra com que fecharemos a obra se a coragem, entretanto, não nos abandonar
nesta difícil tarefa de sondar o insondável «buraco negro, centro do vácuo
proliferador[1]»
da espiral dantesca do sonho, por onde o poeta de Maránus viaja, na noite das
suas "Sombras" que cerzem com o som relampejante do seu mar imenso da
natureza do Marão e o eco do seu caminho iniciático pagão, e místico também, o
grande "romance da saudade". Sombras, «que de perto seguira Dante e
Virgílio nos abismos do Mistério, a alma do Poeta, dramática e atormentada,
marcada pelo fogo dos vulcões infernais e pelos relâmpagos dos espaços[2].»
Teixeira de Pascoaes é
um território prolífero de figuras-espectros que fluem no texto por entre
personagens-quase, que desfilam em caudal ininterrupto, entre cenas e paisagens
místicas carregadas de sombra e luz, de braço dado com a voz do eu-lírico, nos
poemas, e a do narrador-personagem, na prosa - é o cosmos
poético de Pascoaes movido pelo fantasma da "Saudade". Nenhuma das
suas obras parece ter começo ou fim, porque os seus livros são como camadas de
estratos sobre estratos que se dispõem entre eles em profundidade, como se numa
descida aos infernos do ser para logo se tornar subida aos céus de outra vida
ou da vida-outra, depois de purificado pelo fogo.
«Aqui, no
Inferno, neste sítio lúgubre,
A criatura
expia o velho crime
De se ter
entregado às mãos da Morte,
Havendo sido
dada à luz da Vida.
(...)
Aqui, no País
do Drama, o sofrimento
É eterna
Primavera
(...)»T. P. Regresso
ao Paraíso, Canto II
[1] Roberta
Almeida Prado de Figueiredo Ferraz, tese
de doutoramento em Letras, 2016, Universidade de S. Paulo, Brasil
Como nos diz Mário
Cesariny, há na obra de Pascoaes «para além da unidade profunda, a grandeza e
indivisibilidade (...) em criações tidas como plurais: a poesia em verso, a
poesia sem versos, a obra ensaística, a pintura, o humanismo expresso em
conferências e noutros laços de comunicação[1]».
E ainda, «O Poeta, o Mago, Pascoaes, será um ser separado-ligado aos polos
positivos e negativos gerais, como na aritmética o número Um[2]».
As obras de Pascoaes baralham-se
numa lógica elíptica deixando, cada uma delas, antever, no seu quase-fim ou
fim-quase, o princípio da outra que, onde nasce, lhe dá continuidade e vida.
Funcionam, assim, as obras do poeta de Maránus como partes de um todo, de um
corpo único movido pela unidade afectiva a que o poeta nomeou de
"Saudade". "Saudade" que é mais que um tema -
é a sua obsessão, a sua religiosidade, a sua salvação e a sua cruz, a sua visão
do mundo, a sua "filosofia" ou "metafísica religiosa". É o
romance único da saudade, um romance metalinguístico -
em verso quando é prosa ou em prosa quando é verso -
do entendimento do ser que se encarna na potência da saudade; e saudade aqui
percebida como criação poética, revelada na obra lida e entendida como um todo:
todas as obras de Pascoaes, sejam poesia-poesia, prosa-poesia ou poesia-prosa,
numa fusão de corpo e ausência, de sombras e luz, de grito e silêncio, são
partes intimamente ligadas ao todo, soltas entre si mas dialogantes, como se
cada uma completasse a outra, completando-se, movidas poeticamente num encontro
simultâneo do presente-futuro pela memória do passado, projectado para um
futuro-outro, no qual a civilização tomasse (ou venha a tomar) consciência da
sua independência - e, aqui, a consciência rege-se pelo que
é «eminentemente poético» - e se tornasse superior no progresso moral
sobre a riqueza material.
Teixeira de Pascoaes, o
menino que aos 18 anos publica a sua primeira obra chamada
"Embriões", fazendo uso do seu nome de criança -
Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos -, obra rejeitada
mais tarde e queimada no pátio da sua casa do Gatão, a criança tristonha que
com 16 anos de idade «reprova a português no liceu de Amarante, vem provar-nos
que, um poeta ou um letrado não são a mesma coisa que um gramático ou um
professor»[3],
como nos diz António Cândido Franco em "Prolegómenos do saudosismo de
Teixeira de Pascoaes à Colectânea que integra as obras do poeta: Belo, À
Minha Alma, Sempre e Terra Proibida".
Diz-nos ainda o mesmo pensador - e transcrevemos da sinopse à obra de
António Cândido Franco, "A Literatura de Teixeira de Pascoaes": «Foi
um moderno ao arrepio de tudo, que preferiu o vazio de um silêncio definitivo
ao ruído fútil de plenitude que era só, feitas as contas cem anos depois, a
aparência transitória e envernizada do seu tempo[4]». Leonardo
Coimbra escreve: «Pascoaes não é dado às ciências, nem ao raciocínio analítico;
é, sob a inspiração, um vidente, um condensador de recordações, em descarga...[5] ».
Jorge Coutinho diz-nos que graças à «independência económica de que sempre
desfrutou o autor de "Marânus", permitiu-lhe dar-se ao luxo de cedo
rejeitar a única profissão que exerceu na vida, a advocacia» e, na paz e
sossego da natureza, dedicar a sua vida à tarefa de escritor e pensador, quase
com vocação sacerdotal, com carácter «vagamente religioso», como se em
«resposta a um profundo imperativo interior»[6].
João Maia em "O Poder de Símbolo de Teixeira de Pascoaes", aquando da
comemoração do 1.º centenário do nascimento do Poeta-Eremita,
lembra que a obra filosófico-literária de Pascoaes «pertence, sem dúvida, às
obras sagradas pela categoria de magnitude, em tamanho e valia».[7]
[1] Mário
Cesariny (em nota de abertura) na
antologia Poesia de Teixeira de Pascoaes, 1972
[2] Ibidem
[3] António
Cândido Franco, Prolegómenos do
saudosismo de Teixeira de Pascoaes, obra n.º 16 da colecção Obras de
Teixeira de Pascoaes, Assírio & Alvim, Lisboa, 1997
[4] António
Cândido Franco, A Literatura de Teixeira
de Pascoaes, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 2000
[5] Leonardo
Coimbra, Prefácio ao Regresso ao
Paraíso de Teixeira de Pascoaes, 2.ª ed. Renascença, 1923
[6] Jorge
Coutinho, O Pensamento de Teixeira de
Pascoaes - estudo hermenêutico e crítico (dissertação de doutoramento em
Filosofia, Universidade Católica Portuguesa, Braga, 1994
[7] João
Maia, O Poder do Símbolo de Teixeira de
Pascoaes, nas comemorações do 1.º centenário do nascimento do poeta,
Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1980
____________
Efectivamente este poeta solitário e esquecido,
conheceu uma projecção além fronteiras, inigualável para o seu tempo, mais nos
seus títulos didácticos e em prosa que, propriamente a lírica[1]; infelizmente,
entre nós, e até hoje, a obra de Pascoaes teve sempre este triplo estranho
destino: mal compreendida por alguns contemporâneos e por eles de um golpe
liquidada, que tudo fizeram para que, não apenas, caísse no esquecimento mas,
também, fosse rejeitada; esquecida depois pela maioria dos intelectuais
portugueses, sobrevive, a custo, pela dedicação de raros espíritos - curiosos, uns, na expectativa de o
compreenderem, dedicados, outros, porque lhe reconhecem valor.
[1]
[publicações no estrangeiro]
1930 - 1.ª edição francesa de Cantos Indecisos
1931 - 1.ª edição francesa de Regresso ao Paraíso
1935 - 1.ª edição espanhola de S. Paulo (prefácio de Unamuno)
1936 - 1.ª edição checa de Regresso
ao Paraíso
1937 - 1.ª edição holandesa de São Paulo
1938 - 1.ª edição alemã de São Paulo
1938 - 2.ª edição holandesa de São Paulo
1939 - 1.ª edição holandesa de São Jerónimo
1941 - 1.ª edição alemão de São Jerónimo
1942 - 2.ª edição alemã de São Jerónimo
1943 - 3.ª edição holandesa de São Paulo
1943 - 1.ª edição húngara de São Paulo
1946 - 1.ª edição espanhola de Napoleão
1946 - 2.ª edição alemã de São Paulo
1946 - 1.ª edição alemã de Napoleão
1946 - 1.ª edição holandesa de Verbo Escuro
1949 - 1.ª edição alemã de Verbo Escuro
1949 - 4.ª edição holandesa de São Paulo
____________
O Poeta-Eremita
teve, assim, a sorte dos profetas: estes, na sua significação mais ampla a todos
os enviados por Deus, vindos à Terra com a missão de instruir os homens e de
lhes revelar as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual; ao solitário
do Gatão coube a sorte de, a sua poesia e a sua prosa só serem entendidas na
distância temporal, e aceite apenas por alguns, como nos diz Jorge Coutinho «quando
as mudadas condições da história, e sobretudo, o paroxismo dos seus desvios,
(revelarem) que, no oculto da sua profecia e na essência da sua mensagem,
afinal, o profeta tinha razão[1]».
[À
frente, e em altura própria, nos debruçaremos sobre o motivo da impopularidade que
nos parece ter sido responsável para que, ao tempo do poeta, e mesmo ainda
hoje, lhe fosse retirado o brilho que poderia ter sido a esplendorosa luz
reveladora da singela mas profunda verdade messiânica. Coube-lhe, por sorte,
ter sido este o Destino do Poeta-Pensador: começar a ser compreendida, a sua obra,
passado mais de um século do início da sua escrita (1895), quando, no horizonte
da história, se prevê o fim da modernidade; quando, no terceiro milénio da
nossa era, habitam os medos e fecundam as interrogações sobre o que vai ser
este terceiro milénio da era cristã, quando se mata e se destrói, sem
humanidade, em nome dum Deus. Afinal, perguntemo-nos, como faz Jorge Coutinho:
«o que há de intemporal sobre a obra de Pascoaes»? Talvez, nela «possamos
encontrar sugestões» com valor actual, relativamente aos problemas «que mais
inquietam a humanidade em geral e o homem português em particular».[1]
Há
que ler, meditar, colher e descobrir o que diz, ao tempo de ontem (e o tempo de
ontem é o tempo da época e no seu contexto), o espírito da obra profética de
Pascoaes -
a voz que clama no deserto do esquecimento. Fazê-la sair da sombra, fazê-la
brilhar à luz da verdade e da sabedoria; como nos diz José Régio, «ela merece
muito ser conhecida e amada»[2]. Louvor
merecido àqueles que em especial se têm destacado pelas reflexões, comentários
e estudos sobre a obra de Teixeira de Pascoaes, sem desmerecer outros que, como
refere o cónego Jorge Coutinho (e cito) «muito timidamente o fizeram, ainda em
vida do autor, ainda que, uns e outros, com carácter de ensaio mais do que de
carácter científico» (citei).]
[1] Jorge
Coutinho, Ibidem
[2] Jorge
Coutinho, Ibidem
[3] José
Régio, Sobre a Impopularidade de Pascoaes,
"Comércio do Porto", 24 de Janeiro de 1963
A obra de Pascoes é
imensa -
estende-se de 1895, com a publicação de "Embriões", livro que acaba
por rejeitar e queimar, até ao ano da sua morte, 1952, com a publicação de
cerca de 75 títulos (entre poesia e prosa, com reedições retocadas e ampliadas
de livros de poemas) e numerosos folhetos dispersos. Edições pequenas, é certo,
mais das vezes de autor, difundidas especialmente entre amigos e locais. Na
prosa são notórias as conferências doutrinárias e as biografias noveladas. Há,
em toda a obra literária de Pascoaes, marcas reconhecíveis que a individualizam
e tornam única, tanto no domínio da forma como no do pensamento. Toda ela dimana naquele predicativo que Pascoaes
define como «experiências emotivas».. A sua obra traduz
«(...) um estado emocional espontâneo e convertível
em pensamento (...). Houve um instante em que as pedras e os montes me falaram. E
fiquei a ser esse instante. (...)
Na composição da minha obra, recorri sempre
às minhas experiências emotivas.»
T.P. em O Homem Universal, Edições Europa-América,
1937, pp 117
«Ó Tâmega baixinho e
transparente
(...)
Onde, triste, flutua a
sombra dos outeiros.
(...)
Ó Tâmega dos pegos
tenebrosos,
Dos clamores
misteriosos:
Vozes de água inundando
a noite adormecida...»
(do Sempre, 3.ª edição
da Renascença Portuguesa, 1915, pp 46
No poema
"Meditando", dedicado a Miguel de Unamuno, seu eterno amigo,
deixa-nos assim expresso acerca da sua meditação em Deus:
«Desvendar, descobrir, ir ter onde está
Deus
É o verdadeiro fim do coração humano...
É uma estrada a trilhar a vastidão dos céus
Como foram outrora as ondas do oceano.»
(do Sempre, 2.ª edição do Autor, 1902)
«Meditar é subir aquela altura
Onde a gota do orvalho é um astro que alumia,
E onde a humana e terrena desventura
É divina alegria.»
(do Sempre, 3.ª edição da Renascença
Portuguesa, 1915, pp 27)
Assim nos diz Pascoaes da
Natureza, continuação do Homem em Deus:
«Alma, sombra de amor e névoa de tristeza
Turbando os céus...
Prolongamento ideal da Natureza,
Continuação da criatura em Deus.»
(do Sempre, 3.ª edição da Renascença
Portuguesa, 1915, pp 68)
Da 1.ª edição, 1897, do
Sempre, retiramos parte desse belíssimo poema "As Minhas Sombras" que
abre a edição do livro "As Sombras", publicado em 1907 e dado à estampa
nesse ano pela Livraria Ferreira, Rua do Ouro, Lisboa:
«Ó sombras que durante
A noite me falais,
Quando penso, e não sei
Porque a este mundo vim!
(...)
Quem sois vós, quem sois vós,
Vagas sombras perdidas
(...)
Quem sois vós, quem sois vós,
Fantasmas d´outras vidas
Que me falais, se eu ando
À noite, só comigo?
(...)
Sereis da minha dor
Um pálido luar,
Um reflexo do que arde
Em mim, sem eu saber?
(...)
Sois o infinito amor,
O puro olhar de Deus,
Ó sombras que durante
A noite me apareceis!
Vós sois a Luz que existe
Além da luz dos céus,
E d´onde todas vós,
Estrelas, descendeis...»
(do Sempre, 1.ª edição do Autor, 1897)
O que se admirava em
Pascoaes, e que disso foi prestígio e renome merecidos, nessa época e que
perdurou até longe no tempo e ainda hoje faça verter muita tinta - e aqui, a nosso ver, que já era o de Jorge de
Sena, o maior equívoco daqueles que o endeusaram sobre tal -, era a lírica efusiva e retórica, o
sentimentalismo lacrimoso da "saudade" que transformava a realidade
em visões de espectros do além nascidos e erguidos nas montanhas nebulosas do
Marão, que se passeavam entre deuses
exorcizantes pelos rios, arvoredos e nas fontes, nas sombras da noite
dialogando com os mistérios da existência. Fascinados por este tipo de saudade,
reforça-nos Jorge de Sena, que «os poetas e os críticos (desse tempo) não se
davam conta de que essa saudade se voltava muito menos para o passado do que
para o futuro[1]»
e que o papel de tal sentimento seria (e serviria), a partir desta
reminiscência platónica, «o motor de uma crescente humanização do universo[2]». Para esta
(des)valorização do significado da saudade, terá contribuído o próprio poeta (adjuva-nos
Jorge de Sena) pela sua afeição - com que sempre
compactuou -
pelas figurações grandiosas dos deuses que eivam a sua vasta obra poética, pela
complexidade das belas imagens, pela dimensão exagerada dos versos que se
estendem por densos e longos poemas apoiados em abstracionismos líricos, entendidos por alguns críticos "sem conexão racional".
E, assim, perdurou
Teixeira de Pascoaes, até às décadas de 40 e 50, passada que foi a polémica
febril entre o modernismo e as sobrevivências académicas e a extinção do
saudosismo como escola, emergindo, no conceito das gerações mais novas, como
"poeta raro e enorme da poesia portuguesa":
- admirado, até
ao fim da vida, por provincianos com cuja admiração fingia o poeta comprazer-se;
- aceite, também,
durante as décadas de vanguardismo literário por aqueles que viam no modernismo
«um perigoso agente de "desnacionalização" do país[1]»;
- incompreendido
por alguns dos seus pares que, (in)conscientemente e com escárnio,
interpretavam a saudade meramente sentimentalista e a consideravam própria de
qualquer animal, afastando-se, deliberadamente, da concepção da escola
saudosista por si assumida, que eleva a saudade ao nível do sentimento mais
nobre do ser espiritual;
- contestado
pelos agentes do modernismo português, que contra ele e a sua escola
«saudosista» se revoltaram, depois de um pequeno namoro com Pessoa e
Sá-Carneiro.
Antes de entrarmos na
complexidade messiânica da saudade da obra pascoaesiana, antes de esmiuçarmos a
polémica Sergista que levou à sua incompreensão e contribuiu, em grossa medida,
para a sua quase rejeição, antes de concluirmos este longo texto com a cisão
Pessoana da doutrina do saudosismo de Pascoaes - os três temas
principais deste trabalho -, indicamos aqui, em fim de página e de introdução,
a publicação cronológica das suas obras em verso e prosa -
que conhecemos porque provavelmente outras haverá em reedições revistas e aumentadas
-
com a finalidade de balizarmos os dois períodos importantes da sua escrita: de
1895 a 1915, até ao Verbo Escuro (ainda que depois, e durante cerca de dez anos
e até 1925, o poeta tivesse feito algumas publicações em verso dedicando o
maior tempo a revê-la e a refundi-la para a publicação das obras completas que
começou em 1929, tendo ficado incompleto em 1932) e de 1934, com a publicação
de S. Paulo, a 1952, com a força das publicações no domínio da prosa.[3]
[3]
BIBLIOGRAFIA DE TEIXEIRA DE PASCOAES
Pascoes nasce no ano de 1877 - morre em 1952 com 75
anos
Poesia
1895 - Embriões (18 anos)
1896 - Belo, 1.ª parte (19 anos)
1897 - Belo, 2.ª parte (20 anos)
1898 - À Minha Alma
(21 anos)
1898 - Sempre (21 anos)
1899 - Profecia (22 anos)
1900 - Terra Proibida (23 anos)
1901 - À Ventura (24 anos)
1903 - Jesus e Pan (26 anos)
1904 - Para a Luz (27 anos)
1906 - Vida Etérea (29 anos)
1907 - As Sombras (30 anos)
1909 - Senhora da Noite (32 anos)
1911 - Maránus (34 anos)
1912 - Regresso ao Paraíso (35 anos)
1912 - Elegias (35 anos)
1913 - O Doido e a Morte (36 anos)
1914 - O Verbo Escuro (37 anos)
1920 - Elegia da Solidão (43 anos)
1920 - Terra Proibida (43 anos)
1921 - Cantos Indecisos (44 anos)
1921 - O Bailado (44 anos)
1924 - Elegia do Amor (47 anos)
1924 - O Pobre Tolo (47 anos)
1925 - D. Carlos (48 anos)
1925 - Cânticos (48 anos)
1925 - Sonetos (48 anos)
1929 - Pascoaes inicia a publicação de suas obras
completas em 7 volumes (ed. Autor), revisadas e alteradas, processo que se
estenderá até 1932 (52 anos)
1935 - Painel (58 anos)
1949 - Versos Pobres (72 anos)
1953 - Últimos Versos - obra póstuma destinada pelo
autor a ser integrada na colecção "Cancioneiro Geral"
Prosa
1909 - inicia Uma Fábula - o advogado e o poeta, só
publicado postumamente em 1976
1912 - O Espírito Lusitano e o Saudosismo (35 anos)
1914 - A Era Lusíada (37 anos)
1915 - A Arte de Ser Português (38 anos)
1916 - A Beira num relâmpago - relato de viagem (39
anos)
1919 - Os Poetas Lusíadas - conferências (42 anos)
1922 - A Caridade (45 anos)
1923 - A Nossa Fome (46 anos)
1925 - Londres (48 anos)
1926 - Jesus Cristo em Lisboa - teatro (49 anos)
1928 - Livro de Memórias - autobiografia (51 anos)
1934 - São Paulo - biografia novelada (57 anos)
1936 - São Jerónimo e a Trovoada - biografia novelada
(59 anos)
1937 - O Homem Universal (60 anos)
1940 - Napoleão - biografia novelada (63 anos)
1942 - Duplo Passeio - relato de viagem (65 anos)
1942 - O Penitente, Camilo Castelo Branco - biografia
novelada (65 anos)
1945 - Santo Agostinho - biografia novelada (68 anos)
1949 - António Carneiro - biografia (72 anos)
1950 - O Empecido - novela (73 anos)
1950 - Pro Paz - conferência (73 anos)
1951 - Dois Jornalistas - novela (74 anos)
1951 - Aos estudantes de Coimbra - conferências (74
anos)
1952 - Conclui Uma Fábula - o advogado e o poeta, só
publicado postumamente em 1976 (75 anos)
Será constituído pelos seguintes capítulos, em adiantado estado de conclusão:
Cap. I
(In)compreensão da obra pascoaesiana
Cap. II
A polémica António
Sérgio-Teixeira de Pascoaes
sobre o Saudosismo
- O
Sebastianismo e o Saudosismo em Pascoaes (para
o enquadramento da crítica sergiana)
- As dissidências
internas na Renascença Portuguesa e a polémica sergiana
Cap. III
A cisão Pessoana da
doutrina do saudosismo de Pascoaes
- A "Nova Poesia Portuguesa Sociologicamente
Considerada" de Pessoa e o Super-Poeta ou Supra-Camões
- A importância superior da revista "A Águia" (órgão da Renascença Portuguesa) sobre a revista Orpheu de Fernando Pessoa e Sá-Carneiro, para o entendimento do moderno pensamento português
____________
Autor: Alvaro Giesta
____________
serviram-nos de base e estudo, para que o sonho deste trabalho se concretize muitas obras adquiridas - algumas delas originais em 1.ª, 2.ª e 3.ª do tempo de T.P. - "TODAS" a expensas do autor deste trabalho, além de imprescindível consulta a vários documentos soltos colhidos na internet:
- Obras de Teixeira de Pascoaes (aqui apenas registadas as consultadas com o fim em vista, apesar das 21 (vinte e uma) do autor, que fazem parte do nosso acervo literário:
Sempre / À minha Alma / Terra Proibida - Assírio & Alvim
Para a Luz / Vida Etérea / Elegias / O Doido e a Morte - Assírio & Alvim
Senhora da Noite / Verbo Escuro - Assírio & Alvim
O Homem Universal - 1937, Ed. Europa, Lisboa
Os Poetas Lusíadas - 1919, 1ª Ed. do Autor
Sempre, 3.ª ed. 1915, Ed. Renascença Portuguesa
As Sombras, 1907, 1.ª Ed. Autor
Elegia do Amor, 1927, 1.ª Ed. Dom Manuel de Castro e Guilherme de Faria
Regresso ao Paraíso, 1923, 2.ª Ed. Renascença Portuguesa
Terra Prohibida, 1900, Fac Simile da 1.ª Ed. Autor
Arte de Ser Português, texto da 2.ª Ed. de 1920, Ed, Delraux
Maránus, 1920, 2.ª Ed. Autor
- Obras sobre Teixeira de Pascoaes:
. A literatura de Teixeira de Pascoaes de António Cândido Franco
. 30 anos de dispersos sobre Teixeira de Pascoaes, de António Cândido Franco
. Teixeira de Pascoaes, saudade física e metafísica, de Maria Celeste Natário
. Teixeira de Pascoaes revisitado, de Roberta Almeida Prado de Figueiredo Ferraz
. O Pensamento de Teixeira de Pascoaes, de Jorge Coutinho
. A poesia de Teixeira de Pascoaes, de Jorge de Sena
. A Grande Antologia de Teixeira de Pascoaes, de Mário Cesariny
. Teixeira de Pascoaes das Origens e da Saudade, de Mário Marinho
. Nova interpretação do Sebastianismo, de José Marinho
. Estética da Saudade em Teixeira de Pascoaes, de Maria das Graças Moreira de Sá
. Cartas a Teixeira de Pascoaes, de Albert Thelen
. Epistolário Ibérico: cartas de Unamuno e Pascoaes
. Teixeira de Pascoaes - contribuição p/estudo da sua personalidade e para a leitura crítica da sua obra, de Mário Garcia
. Teixeira de Pascoaes na Revista "A Águia"
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