08/09/16

OBLÍQUO É O TEMPO (caderno N.º 1 da Colecção Giesta) - € 5,00 c/portes incluídos

um pequeno livro com 30 pequenos-grandes poemas
Autor: Alvaro Giesta

marcas do tempo

1.
o tempo deixa no homem marcas
gravadas como precipícios
para toda a eternidade

(...)


2.
correm nas mãos estas marcas
como línguas de fogo sagrado
num cortejo sábio
que a ferocidade do tempo
esculpiu no marulhar incessante da vida

(...)


3.
sincronicamente se ajustam
esses pedaços de tempo

(...)


4.
(...)

esses estratos-milénios
são como cassiopeias que irrompem
do lodoso-chão para a clara luz


5.
são rastros-registos marcas-memórias
cadastros que ficam para sempre
(...)

há sempre uma cidade escondida
(...)
na linha ininterrupta do tempo


(...)


14.
criei em mim a ideia de dizer
do tempo e ao tempo

(...)

que (...)
deixa nas veias o sangue da memória
e ogivas de dor
no corpo
a perpectuar o passado

15.
(...)

- sinto o rumor do tempo
pelo silêncio desta velha casa
murmurar



brado ao tempo

1.
tempo
escrevo-te hoje para te descrever
assim:
- metade do tempo como nós
outra metade bem pior
sempre igual a ti mesmo
ruim

colo o meu tempo por cima do teu
e que vejo nele?
tatuagens
sobre as mesmas tatuagens
coisas doutro tempo longínquo
que este actual esqueceu

12.
ergo este poema
nas linhas do corredor do tempo
onde habitam o fragor do mar
e a escuridão da noite

escrevo
com tinta mais negra que o breu

aqui espero pela luz suave e cândida
da devastadora beleza do mundo

repara na (im)perfeição das coisas

13.
mesmo que o teu corpo tangível
rebente de tédio
na invenção do tempo e do mundo

mesmo que o sulco deixado
pelas palavras no branco papel
nada te digam

mesmo que penses que eu deixo aqui
excessos de nada

mesmo que uma língua teimosa
tolde de penumbra o teu Sul
abre este longo poema e lê-me

14.
quero que saibas
que apesar de todos os revezes
que o tempo sem fim e a vida tem
sempre há Sul dentro de nós

ou pelo menos sempre se faz Sul
dentro de nós Sul-Sol-Calor

15.
calor também pois claro
porque não há Sol sem Sul e sem Calor

ainda que mais das vezes o sul
tenha fome
e crianças estropiadas
e órfãos
e mutilados de guerra

que sendo do sul jamais saberão
o calor e a luz que esse sul pode ter.



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