um pequeno livro com 30 pequenos-grandes poemas
Autor: Alvaro Giesta
marcas do tempo
1.
o tempo deixa no homem marcas
gravadas como precipícios
para toda a eternidade
(...)
2.
correm nas mãos estas marcas
como línguas de fogo sagrado
num cortejo sábio
que a ferocidade do tempo
esculpiu no marulhar incessante da vida
(...)
3.
sincronicamente se ajustam
esses pedaços de tempo
(...)
4.
(...)
esses estratos-milénios
são como cassiopeias que irrompem
do lodoso-chão para a clara luz
5.
são rastros-registos marcas-memórias
cadastros que ficam para sempre
(...)
há sempre uma cidade escondida
(...)
na linha ininterrupta do tempo
(...)
14.
criei em mim a ideia de dizer
do tempo e ao tempo
(...)
que (...)
deixa nas veias o sangue da memória
e ogivas de dor
no corpo
a perpectuar o passado
15.
(...)
- sinto o rumor do tempo
pelo silêncio desta velha casa
murmurar
brado ao tempo
1.
tempo
escrevo-te hoje para te descrever
assim:
- metade do tempo como nós
outra metade bem pior
sempre igual a ti mesmo
ruim
colo o meu tempo por cima do teu
e que vejo nele?
tatuagens
sobre as mesmas tatuagens
coisas doutro tempo longínquo
que este actual esqueceu
12.
ergo este poema
nas linhas do corredor do tempo
onde habitam o fragor do mar
e a escuridão da noite
escrevo
com tinta mais negra que o breu
aqui espero pela luz suave e cândida
da devastadora beleza do mundo
repara na (im)perfeição das coisas
13.
mesmo que o teu corpo tangível
rebente de tédio
na invenção do tempo e do mundo
mesmo que o sulco deixado
pelas palavras no branco papel
nada te digam
mesmo que penses que eu deixo aqui
excessos de nada
mesmo que uma língua teimosa
tolde de penumbra o teu Sul
abre este longo poema e lê-me
14.
quero que saibas
que apesar de todos os revezes
que o tempo sem fim e a vida tem
sempre há Sul dentro de nós
ou pelo menos sempre se faz Sul
dentro de nós Sul-Sol-Calor
15.
calor também pois claro
porque não há Sol sem Sul e sem Calor
ainda que mais das vezes o sul
tenha fome
e crianças estropiadas
e órfãos
e mutilados de guerra
que sendo do sul jamais saberão
o calor e a luz que esse sul pode ter.
Autor: Alvaro Giesta
marcas do tempo
1.
o tempo deixa no homem marcas
gravadas como precipícios
para toda a eternidade
(...)
2.
correm nas mãos estas marcas
como línguas de fogo sagrado
num cortejo sábio
que a ferocidade do tempo
esculpiu no marulhar incessante da vida
(...)
3.
sincronicamente se ajustam
esses pedaços de tempo
(...)
4.
(...)
esses estratos-milénios
são como cassiopeias que irrompem
do lodoso-chão para a clara luz
5.
são rastros-registos marcas-memórias
cadastros que ficam para sempre
(...)
há sempre uma cidade escondida
(...)
na linha ininterrupta do tempo
(...)
14.
criei em mim a ideia de dizer
do tempo e ao tempo
(...)
que (...)
deixa nas veias o sangue da memória
e ogivas de dor
no corpo
a perpectuar o passado
15.
(...)
- sinto o rumor do tempo
pelo silêncio desta velha casa
murmurar
brado ao tempo
1.
tempo
escrevo-te hoje para te descrever
assim:
- metade do tempo como nós
outra metade bem pior
sempre igual a ti mesmo
ruim
colo o meu tempo por cima do teu
e que vejo nele?
tatuagens
sobre as mesmas tatuagens
coisas doutro tempo longínquo
que este actual esqueceu
12.
ergo este poema
nas linhas do corredor do tempo
onde habitam o fragor do mar
e a escuridão da noite
escrevo
com tinta mais negra que o breu
aqui espero pela luz suave e cândida
da devastadora beleza do mundo
repara na (im)perfeição das coisas
13.
mesmo que o teu corpo tangível
rebente de tédio
na invenção do tempo e do mundo
mesmo que o sulco deixado
pelas palavras no branco papel
nada te digam
mesmo que penses que eu deixo aqui
excessos de nada
mesmo que uma língua teimosa
tolde de penumbra o teu Sul
abre este longo poema e lê-me
14.
quero que saibas
que apesar de todos os revezes
que o tempo sem fim e a vida tem
sempre há Sul dentro de nós
ou pelo menos sempre se faz Sul
dentro de nós Sul-Sol-Calor
15.
calor também pois claro
porque não há Sol sem Sul e sem Calor
ainda que mais das vezes o sul
tenha fome
e crianças estropiadas
e órfãos
e mutilados de guerra
que sendo do sul jamais saberão
o calor e a luz que esse sul pode ter.
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