um pequeno-grande poema em 30 fragmentos
Autor: Alvaro Giesta
voo sem asas
1.
passeia-se o ser
entre a voz da loucura e a voz do génio.
perturbam-no místicos céus,
neles há mistérios insondáveis
por descobrir.
desce a rua em hiberno sono
até ao fundo longínquo da cidade adormecida.
2.
na memória
há relâmpagos fulgurantes
que se estilhaçam como línguas
de fogo
na indecisão dos dias
frios e crua.
dizem dele que é alguma coisa
entre o génio e a loucura,
(...)
8.
voláteis são as pétalas
que sobrevoam o corpo do ser
na ausência desse mesmo corpo,
e cortam as asas do vento
rente à superfície do tempo
onde adormece.
9.
quando acorda
os músculos negam-se a ser testemunhas
destas metamorfoses desesperadas,
(...)
11.
faltam-lhe as asas,
e nelas as remiges com que lhe sustentam
e dirigem o voo
para o infinito desconhecido.
12.
se tivesse asas (absurdamente pensa)
saboreava num voo plano e pleno
os aromas da tarde
quando tórrida vertesse sobre
a couraça do ser-ave em que se quis
neste horizonte de inquietações e lágrimas;
depois à noite
mergulharia no poço sagrado da palavra
que todos os dias faz verter
o grito inquieto do voo.
o poeta em frágeis aspirações
17.
ergue o poema
quando
o eclípse se ausenta num gesto
tímido do mar...
ergue-se a voz do poeta
num movimento lento do areal,
onde
as ondas são a transumância do corpo
sedento de ser
que se move em ondas de loucura
nestes gestos da criação
18.
há metamorfoses de medo e solidão
no corpo em que se transmuda:
nele se revivem enigmas (...)
nele se transforma a voz (...)
nele se conduzem notívagas aspirações
no silêncio necessário
para o acto da criação.
28.
(...)
ergue-se a palavra
(essa namorada extraviada do silêncio)
na inesperada onde que nasce
entre a voz da loucura e a voz
do génio: a voz que cria.
29.
a voz que se ergue
da sombra...
nela se interrompe e se começa
nele se busca e se encontra,
ela se inventa num sempre novo navegar;
ela se dá conta de si
e diz que é preciso criar.
no seu silêncio nómada
descobre primaveras na face oculta da sombra
quando dela refulgem laivos de luz
como se fosse a religiosidade do sol
a anunciar o caminho.
3..
murmura o silêncio da noite grandezas
até aí subterrâneas;
acordam vozes submersas no poeta
que fecha os olhos e da sua enorme floresta interior
nasce a imensidão do verso.
cria, assim
da religiosidade da palavra
a força da árvore e do céu.
Autor: Alvaro Giesta
voo sem asas
1.
passeia-se o ser
entre a voz da loucura e a voz do génio.
perturbam-no místicos céus,
neles há mistérios insondáveis
por descobrir.
desce a rua em hiberno sono
até ao fundo longínquo da cidade adormecida.
2.
na memória
há relâmpagos fulgurantes
que se estilhaçam como línguas
de fogo
na indecisão dos dias
frios e crua.
dizem dele que é alguma coisa
entre o génio e a loucura,
(...)
8.
voláteis são as pétalas
que sobrevoam o corpo do ser
na ausência desse mesmo corpo,
e cortam as asas do vento
rente à superfície do tempo
onde adormece.
9.
quando acorda
os músculos negam-se a ser testemunhas
destas metamorfoses desesperadas,
(...)
11.
faltam-lhe as asas,
e nelas as remiges com que lhe sustentam
e dirigem o voo
para o infinito desconhecido.
12.
se tivesse asas (absurdamente pensa)
saboreava num voo plano e pleno
os aromas da tarde
quando tórrida vertesse sobre
a couraça do ser-ave em que se quis
neste horizonte de inquietações e lágrimas;
depois à noite
mergulharia no poço sagrado da palavra
que todos os dias faz verter
o grito inquieto do voo.
o poeta em frágeis aspirações
17.
ergue o poema
quando
o eclípse se ausenta num gesto
tímido do mar...
ergue-se a voz do poeta
num movimento lento do areal,
onde
as ondas são a transumância do corpo
sedento de ser
que se move em ondas de loucura
nestes gestos da criação
18.
há metamorfoses de medo e solidão
no corpo em que se transmuda:
nele se revivem enigmas (...)
nele se transforma a voz (...)
nele se conduzem notívagas aspirações
no silêncio necessário
para o acto da criação.
28.
(...)
ergue-se a palavra
(essa namorada extraviada do silêncio)
na inesperada onde que nasce
entre a voz da loucura e a voz
do génio: a voz que cria.
29.
a voz que se ergue
da sombra...
nela se interrompe e se começa
nele se busca e se encontra,
ela se inventa num sempre novo navegar;
ela se dá conta de si
e diz que é preciso criar.
no seu silêncio nómada
descobre primaveras na face oculta da sombra
quando dela refulgem laivos de luz
como se fosse a religiosidade do sol
a anunciar o caminho.
3..
murmura o silêncio da noite grandezas
até aí subterrâneas;
acordam vozes submersas no poeta
que fecha os olhos e da sua enorme floresta interior
nasce a imensidão do verso.
cria, assim
da religiosidade da palavra
a força da árvore e do céu.