Estamos perante um poeta genial: dito assim, deste modo peremptório, quase a evidência nos diz podermos dispensar da leitura de qualquer prefácio de obra sua, os leitores mais incrédulos que pretendem conhecer do poeta Edgardo Xavier. Do poeta e da sua obra poética. Assim, a classificação de "genial" leva-nos a pensar não ser necessário prefaciar qualquer obra sua, muito principalmente pela subjectividade que a poética em si comporta. Também sabemos que pouca gente lê os prólogos - ironiza-nos o escritor e filósofo espanhol Gregorio Marañón - e, os que os leem, preferem guiar-se por si, com o que estamos plenamente de acordo; se bem que muitas vezes o prefácio, prólogo, prolegómenos, tenha que nome tiver o texto introdutório à obra, não faça mais do que "elogiar-se" a si próprio o prefaciador no seu acto de prefaciar, tantas e tantas vezes com palavras enredadas e enubladas que de si sequer dizem algo, quanto mais do autor, ficando no ar a dúvida se alguma vez o leram por inteiro para dele poderem dizer em prefácio.
Levará
a pensar ser esta afirmação -
um poeta genial -, se não arrogante, pelo menos descabida
e irresponsável da nossa parte. Mas, que o poeta é genial comparando-o com os
seus tantos pares que por aí debitam a palavra naquilo a que chamam
"poesia", lá isso é. E sem a necessidade de dar ênfase à afirmação.
Nunca
é fácil falar dum autor quando dele não se conhecem as obras todas: das suas sete
em livro apenas duas nos fugiram do contacto e da leitura pela impossibilidade
de as encontrarmos no mercado - AMOR DESPENTEADO, ed. Casa das Cenas,
Sintra, 2007 e O CANTO DA PEDRA, ed. Papiro, 2009. Contudo, viajámos algumas
vezes e em profundidade, águas abaixo águas acima, pelas outras cinco que temos
em mãos: CORPO DE ABRIGO, ed. Temas Originais, 2011, AZUL COMO O SILÊNCIO,
Chiado editora, 2014, LISBOA, ed. Temas Originais, 2015, ESCRITA ROUCA, ed. Insubmisso Rumor, 2016 e
ÍNTIMA IDADE, ed. Temas Originais, 2017. Da muita poesia também lida de si, por
nós em "Pensador", prolífero lugar existente na magia da internet, e
noutros locais do éter, nos faz pensar que Edgardo Xavier, embora começando
tarde a publicar o que a juventude lhe terá ditado cedo, assim o terá decidido,
por opção, depois de deixar que o pó do tempo fizesse a maturação devida do
mosto para que, levado às serpentinas do pensamento, produzisse bom vinho sem a
necessidade da transformação apressada como nas bodas de Canaã, e do ferro em
bruto que, levado agora à forja da oficina, fez dele nascer a peça com arte.
Apenas
mais por um critério pessoal que qualquer outro motivo -
que de toda a poética de Edgardo Xavier somos amantes -,
desta quase análise excluiremos as duas últimas obras - melhor dizendo: não nos
debruçaremos sobre elas - "Lisboa" e
"Íntima Idade", a primeira cantando o amor pela "sua"
cidade (aqui o destaque é nosso porque não lhe sendo de nascença é, contudo, de
coração) e a segunda, embora cantando o amor em serena contemplação, porque nas
demais, em análise, se evidencia pela maior profundidade da lira.
Amamos o poeta quando nos faz crescer por dentro e exultar de satisfação e alegria ao lê-lo. Como ele diz, "amar é crescer por dentro" e connosco voa e com ele erguemos as asas e nos deixamos conduzir nesse voo sem destino:
Amamos o poeta quando nos faz crescer por dentro e exultar de satisfação e alegria ao lê-lo. Como ele diz, "amar é crescer por dentro" e connosco voa e com ele erguemos as asas e nos deixamos conduzir nesse voo sem destino:
«Contigo todas as palavras
São de renda ou de cristal
Contigo vestem-se de prata as manhãs
E as horas
Suspendem-se dos teus olhos
Imóveis
Como frutos do tempo
Sou a pedra em que te apoias
Acordo ao som do teu nome
E cego para tudo o que não seja
A luz que vem de ti
Cantam em mim as tuas alegrias
Soam cá dentro as tuas mágoas
Sou toque de ave-marias
Sou som de todas as águas
Sou o arrepio das folhas
Na bebedeira do vento
Amar é ser tudo isto
Amar é crescer por dentro»
[Sintra, 4/5/2007 em Corpo de Abrigo]
São de renda ou de cristal
Contigo vestem-se de prata as manhãs
E as horas
Suspendem-se dos teus olhos
Imóveis
Como frutos do tempo
Sou a pedra em que te apoias
Acordo ao som do teu nome
E cego para tudo o que não seja
A luz que vem de ti
Cantam em mim as tuas alegrias
Soam cá dentro as tuas mágoas
Sou toque de ave-marias
Sou som de todas as águas
Sou o arrepio das folhas
Na bebedeira do vento
Amar é ser tudo isto
Amar é crescer por dentro»
[Sintra, 4/5/2007 em Corpo de Abrigo]
Como
a afirmação de certo poeta - aqui não mencionado para não distrair o
leitor daquilo que pretende ser só propósito a condução através da poética do
autor de "Corpo de Abrigo" - que antecedendo
as suas obras com a máxima "universal é o verso sem paredes" deixando
ao leitor as inúmeras respostas daqui a aduzir, também Edgardo Xavier labora
algumas das suas obras com a ausência do ponto final naquilo que poderá ser
considerado fim de verso e ou fim de estrofe e de outras formas gráficas
definidoras da pausa no texto: dá-nos, assim, liberdade total na leitura. Em
outras se verga ao saber e ao sabor gramatical do ponto final e de outras
formas de pontuação.
Sábio
pela humildade, que lhe reconhecemos, é o autor quando nos diz em nota que antecede
o texto de "Corpo de Abrigo", que "é no olhar dos outros que me
revejo e aprendo" - valoroso dom, alto e nobre, também, que
nos livros não se aprende mas nasce com o ser, esse de reconhecer-se, rever-se e
aprender-se "no olhar dos outros"! E que, em quem o entende, se
"enquista" e "voa". Que maior sabedoria existe do que
ser-se humilde por natureza?!
É
na pele com que veste os seus poemas em demanda da própria voz, que se encontra
"com o próprio eco", como recorda, em prefácio ao "Corpo de
Abrigo" o seu editor Xavier Zarco. Há, assim, uma procura do seu próprio
corpo no corpo outro, desvendando-se quando "a palavra" -
aquilo que ele diz usar como sendo "a sua pele" -
"descobre o seu próprio corpo" como espaço vital para viver e se dar
ao outro, codificando-se em imagens nem sempre de decifração fácil, que o levam
"a todos os lugares habitados da memória e à solidão". Dirá o poeta
"para (assim) cumprir o caminho" - diremos nós:
como o eremita, o profeta, para assim cumprir a profecia.
Na
sua libertação interior através da palavra, magistralmente imagética em
"Azul Como o Silêncio", o poeta revela-se ao mundo: essas imagens são
como que o "exercício espiritual", de que nos fala Octávio Paz, que
"revela este mundo (mas também) cria o outro"; o do sonho, diremos
nós -
"a certeza da manhã futura", dirá o poeta Edgardo. Sonho que se alimenta
do vazio do tempo e de si; mas, em Edgardo Xavier, o vazio não é vazio -
é apenas um "diálogo com a ausência" com o silêncio onde busca a
palavra "fermento da rebeldia" que, alimentado por aquilo que deixa
antever tédio, angústia ou desespero pela falta, mas também "raiva", se
transforma em "oração, epifania, sublimação"; como ele dirá: "é
prenúncio de liberdade" - é a sua arte no fazer poético.
«Não fora a certeza da manhã futura e todo
o peso desta escuridão seria intolerável.
Chego aqui vazio de sentido e nenhuma voz
é portadora de paz.
Tu mesma, imóvel na cinza das horas, és como
uma pedra que não sabe nem espera.
O teu silêncio traduz o medo da palavra
não vá sair-te da garganta o fermento da rebeldia
ou o som justo da guerra.
Digo-te que toda a raiva é prenúncio de liberdade
mas aceito que, por amor, hibernes até que venha
o sol ou a morte.»
[Corpo de Abrigo]
Obras
de leitura fácil e de entendimento acessível pela limpidez do tema magistralmente
abordado pelo autor: o Amor. Mas, porque habilmente construídas com o recurso a
requintada criatividade imagética, não dispensam, nunca, análises literárias -
assim despertem da letargia em que hibernaram os críticos sérios deste país. Que
bem se reflecte, o poeta, no corpo-outro quando o descobre -
"só na tua voz se espelha a minha sede" -
e nele se encontra e nele busca a perfeição - "e tu,
amor, demoras / perdes tempo para a perfeição" -
mesmo havendo sombra, porque não há luz sem sombra, porque é da sombra que
nasce a luz -
"conta-me / do que é preciso / para que vistas luar / e sombra / pele e
luz". Nessa "luz doce (que) desce / pelo teu ventre até à sombra /
onde vibram os medos / e a boca mergulha como ave silenciosa", em "o
silêncio (que) é o melhor da nossa intimidade // em que, nua, escondes a
alma", "mais que a língua / em que te amo / é o teu corpo / a minha
pátria", se denuncia a presença de Eros, lendo-se o sensual, o erotizante
duma forma suave e pura (jamais melindrando susceptibilidades ou ferindo os ouvidos
mais sensíveis ou, melhor dizendo, ferindo-os pela harmonia da lira), marcando
bem o limite do sensual mesmo quando se considera que é difícil distinguir o
limite onde começa o erótico -
que, considerando, se na poética de Edgardo Xavier existe, ele é tão subtil que
quase se não denuncia - e termina o simplesmente sensual. "Toco-te
/ vibro na promessa / de um amor pleno / e gemo a sedução / do teu corpo
nu". Mesmo quando (como em "Escrita Rouca"), no amor levado ao
extremo dos sentidos se denota laivos de excitação do prazer provocados pelo
"sofrimento" (e aqui a palavra entre parenteses é nossa para lhe
retirar qualquer significado de dor corporal) não é mais do que o tal
"paradoxo entre a violência e a ternura" de que nos fala a
prefaciadora. E não é, seguramente, a busca do sofrimento real que causa
excitação sexual ao poeta, como era em Sade.
«Para te amar
mais exijo que o sangue nos corra em beijos mordidos; que as minhas mãos
marquem violáceas posses na tua carne (...); que ruidosos gritos ocupem o ar
(...). Bato-te. Excita-me que a pele estale e sue, que doa, rubra a minha mão».
[Escrita Rouca]
Aqui,
em Edgardo, presente no texto "Em ti o amor é um licor forte", de
Escrita Rouca, "Amar é sentir o prazer e a agonia (...)" é
subjugar-se para, no outro ser, se ligar com o "fogo", com o
"infinito", com "o fundo de um poço no qual não paro de
cair". É, inclusivamente, rejeitar a liberdade em troca da prisão do amor:
"Toda a liberdade me é maldita por ser a minha alegria esta prisão".
Pensando
o ser, como instrumento do discurso poético submetido ao instrumento da coisa
amada, transforma o "corpo-outro" num embate de linguagem poética que
se nega, por vezes, a mitigar a fome do amor sem antes haver a certeza da
doacção nobre e pura do outro ser. Depois dessa doacção nobre e pura em que
"uma lava ardente / (...) descobre (no outro ser o) rumo / e apaga o
tempo", diz-nos o poeta, "toda a glória do mundo / cabe em minhas
mãos". É no compromisso com o tempo que se circunscreve em torno do amor
na sua poética, seja como um círculo num acto de acolher o corpo-outro,
solidariza-se com a noite como se fosse sua conselheira: "Sei que no
parado das horas / entre sombras e aromas de urze / me liberta a noite / do
rigor do caminho" e que "só a noite me liberta / da solidão do
destino". A solidão, irmã do silêncio, porque ambos se alimentam de si
mesmo para gerarem a sorte, a viverem do vazio que em Edgardo, como já
referimos, não é vazio mas, apenas "diálogo com a ausência" onde cria
e alimenta a fome do "Desejo" do corpo-outro:
«De pensar te faço corpo
por te saber
acendo o sangue de infinito
e quando o grito
na solidão da minha sorte
chamo por ti
para limpar-me de silêncio»
[Azul como o silêncio]
É
para lá do tempo que o poeta se quer hoje: "quero este dia livre, / sem o
peso de ontem / nem a incerteza do amanhã"; a força do silêncio -
o melhor que a intimidade entre dois seres, tem. Porque "o silêncio não
fere a intimidade" nem o tempo "se atreve / a declarar morta a nossa
juventude". Sabemos, pelos versos do poeta que volta "por caminhos
imaginários à (sua) infância", que nós-outros nada sabemos da força do
amor, quando aprendemos com ele ao lê-lo, nesta cantata a tão nobre sentimento,
em "Azul como o Silêncio", exultação a um amor-outro, assim cantado: "mais que a língua / em
que te amo / é o teu corpo / a minha pátria". Magistral poema "O
Infinito" que não precisa ser grande para ser maior. A subjectividade
poética permite-nos, nas suas obras, divagações e pensamentos visionários, por
onde não nos vamos perder em análise, que críticos literários não somos, que
passam pelo corpo do outro ser ou, mesmo, do torreão que viu nascer o poeta e
de que sabemos ausente e saudoso. Seja o que for e seja como for, são
"Momentos" de magia e de "procura apetecida / de um outro
mar". Que, como nos diz Edgardo Xavier, naquilo que poderemos chamar
aforismo, a abrir a obra atrás referida, ele canta "Ao amor. Sem ele eu
seria uma pedra."
«Sempre que posso voo nos teus
sonhos.
As tuas palavras trazem-me as
alturas,
os mundos e os caminhos.
Regresso, pelo teu corpo, à
terra sedenta de nós
e deixo, no silêncio, as minhas
asas.»
[Azul como o silêncio]
No
jogo dos elementos [Água (mar/rio), Ar, Terra (chão/pedra), Fogo (luz/claridade]
o autor, que é também artista plástico, compromete-se com o mundo exterior que,
para o reproduzir nas suas telas e nos versos que lavra, o interioriza
interiorizando-se para a procura de si, retransmitindo esse mundo exterior na
construção de uma aliança com a natureza na expectativa de encontrar a harmonia
entre o outro corpo e o seu próprio corpo, que finalmente se encontra no
corpo-outro em que se revê: "como se fosse terra tua / ara-me" (e)
"seja eu / a sede e a água"
(e) "na minha boca / a tua sede / incendeie a madrugada" como
a "voz (...) / no vermelho do meu fogo", "para ser vento / voo e
ave / no teu canto". O voo poético por espaços e infinitos só por si
navegados, e o eterno movimento dos elementos que contribui para a descoberta e
conhecimento de si, presentes em toda a poesia na obra de Edgardo Xavier. A par
do jogo dos elementos, a crença, o desejo, a pureza da alma na visão do amor
etéreo que quer e deseja eterno enquanto terreno, e a certeza, fora do espaço e
para além do tempo, o que quer dizer sem sujeição a fronteiras, a limites
impostos pelo infinito espaço e pelo indizível tempo. Sem grilhetas e sem
algemas, mesmo sendo a noite mais fechada que o mistério. É a procura do corpo outro
onde o poeta se reflecte "só na tua voz se espelha a minha sede",
"e no verde líquido dos teus olhos lavo os meus", e se descobre e se
encontra e, consequentemente, nele busca a perfeição:
«Pressiono-te com o olhar
botão de nada e roxo
mudo-te a luz
mato-te a sede
e espero
desejo
quero
que sejas já amanhã
a certeza
a cor
o aroma
a beleza.
E tu, amor, demoras
perdes tempo para a perfeição.»
[Azul como o silêncio]
«Procuro-te e acho um rio.
Olho-te e já a tua água é sangue bravo
fogo que chega, derramado à minha sede.
Bebo-te.
Corres no meu deserto de dunas e pedras até que
floresço, aceso, na tua boca onde me perco e anulo.»
[Azul como o silêncio]
O poeta Edgardo Xavier compromete-se, assim,
com o tempo na escritura do poema, "Sei que no parado das horas / entre
sombras e aromas de urze / me liberta a noite / do rigor do caminho",
solidarizando-se com a noite como se a noite fosse sua conselheira, "Só a
noite liberta / da solidão do destino". Aqui, "Da boca ao peito / do
ventre à aventura / é nos meus dedos que nasces / é no meu mar que navegas / à
bolina do espanto". Como pode o poeta não se abrigar na força do destino,
quando o sonho e a esperança no seu processo de busca persistente em procurar
no outro corpo o seu próprio corpo, só se completa quando o seu corpo, no corpo
outro se torna uno?!Existe, nele, essa "Certeza":
Nas tuas palavras bebo o meu
destino
e no teu corpo mato a minha
sede.
Na tua ausência
perco-me em mim mesmo"
[Escrita Rouca]
"Escrita
Rouca", um livro em que o editor primou pela qualidade gráfica da obra,
visível, de imediato e sem grande esforço, na primorosa capa, e em que o autor,
na linha do magistralmente (até aqui) cantado - o Amor -
lhe dá continuidade numa forma imagética mais requintada que nas anteriores
obras, continua a dar-nos a dimensão do Ser entre o EU que se consome no desejo
e no prazer, e entre a solidão - em que o silêncio e o vazio são especial adorno da esperança e do sonho -
e a espera, e se sente "gozo e tormento" no TU em que se reflecte e
funde.
«É no silêncio
(...) / que te sinto a arder e te adivinho.
Sou o vazio. /
Nem voz, nem vontade ou ideia / apenas a dádiva que emerge ou incendeia / para
que te ilumines.»
«Sobrou o
vazio.
o rigor em que
o meu sangue preso e o frio
já eram
distância e silêncio.
(...) e
tenho-te quando os sonhos
me levam ao
coração verde da terra.»
«A esperança
sinto-a para lá
do tempo
esse muro que
os olhos não veem
mas onde o coração
te adivinha.»
«Preciso
erguer-me e ganhar distância para voltar à solidão. Nela fico frio e nu. Vazio
de sentido. (...) Espero-te ainda. Vou esperar-te até que a memória te apague
de mim ou te faças realidade. Quando chegares à minha noite estarei pronto.
(...)»
[Escrita Rouca]
O
vazio que em Edgardo Xavier é, apenas, "um diálogo com a ausência", é
a busca da palavra certa que "vem e acende em mim o fogo eterno" mas
que também "mata de indiferença o meu crepúsculo"; é um paradoxo, mas
é nesta inquietação de satisfação insatisfeita que o autor sente prazer
absoluto. "Só em ti me sei gozo e tormento." Cromática, esta superior
obra, pela magia do sonho e da esperança, pelo impulso -
às vezes quase selvagem - do amor, num misto de dor pela
ausência, ou melhor, pela demora da chegada nesta ânsia da procura, pela
saudade -
o véu protector da solidão - em que o poeta mergulha muitas vezes
como se caísse no fundo "do seu poço" para logo de seguida se erguer -
pois é "o tempo e a noite neste sonho que dá eternidade ao efémero" -,
pelo "amor bravio" que corre em sua libertação, se pode dizer que,
nesta agitação da espera, entre a partida e a chegada, o temor da não vinda se
esfuma quando o poeta conclui que "a inquietação deixou de existir" e
que "Tu és o meu futuro."
«Aperto os passos
e sinto-me criança como tu.
Limpo o espírito e fico leve.
Tão leve que poderia voar
se tu quisesses.
A tua mão na minha
afasta as pedras
do caminho.»
[Escrita Rouca]
Assim,
dirá qualquer poeta que se sinta bafejado pelo amor: a minha mão na tua eram
uma só!
08 de Julho de 2017
© Alvaro Giesta (pseudónimo)