(como
se fosse o Ponto de Bauhüte) [i]
1.
nu
branco e negro
jaz
em
círculo enrolado sobre
a
luminosidade luminosa do lençol
- o corpo
2.
circunscrito
na
concha que se forma ao centro
- o nascimento
3.
nele
o ponto negro interacciona-se
com
o quadrado luminoso do lençol
- assim é o corpo como ponto de bauhüte
4.
três
vértices na mancha negra
- o triângulo e o seu ponto interior -
no
centro grita o fogo a chamar
sobre
o corpo enrolado
5.
grita
na pele o sexo - a mancha negra
em
união com a geometria
do
triângulo
6.
na
pele a febre oculta bebe o ar
no
corte vertical fechado em concha
que
se há-de abrir entre as coxas do poema
7.
quando
os lábios
na
sede de se darem se entregam
ergue-se
o gesto que faz a poesia do corpo novo
neste
sempre corpo branco e negro
em
círculo enrolado na macieza luminosa do lençol
8.
no
corpo a rasgar-se a concha
fechada
ao centro no triângulo negro
para
o mistério do nascimento
o sempre
mistério do corpo feminino
e
imaculado anunciando a renovação
9.
o
interior oculto do triângulo
onde
o mel da terra se cria e se dá
no
fogo do vinho e da água
e
da rosa vermelho-sangue
- altíssima perfeição
10.
no
oculto interior o mel se derrama e o sol
como
quinta essência se dá ao ósculo
- o ponto de fuga e união perfeita do triângulo
do
corpo enrolado em círculo
________
[i]
Reconheço
a dificuldade (de entendimento) do poema - até para mim que o escrevi - se não
estivermos por dentro da simbologia do Ponto de Bauhüte, coisa difícil de
entender mesmo quando só aplicado no ponto central do círculo que se
interacciona com o triângulo equilátero e o quadrado. É a perfeição deste ponto
que faz nascer o pentagrama - símbolo pagão formado por uma estrela de cinco
pontas em cada uma delas presentes os elementos: AR, TERRA, ÁGUA, FOGO e mais
um 5.º elemento - o da perfeição, a quinta essência, o ESPÍRITO, que coordena
os outros elementos.
Se o pentagrama for perfeito,
vemos o símbolo tradicional do conhecimento fundamentado no número 5 que
expressa a união dos desiguais - é a união fecunda, o casamento, a realização
unindo o masculino (o 3) ao feminino (o 2).
Ao longo do tempo o Pentagrama
foi usado por diversos estudiosos e filósofos como Pitágoras que usou o
pentagrama como símbolo da primeira faculdade no mundo dos homens, a Escola Pitagórica.
Ele é, não só um símbolo aristotélico mas, sobretudo, hermético, na boa
tradição da "oculta philosophia" compendiada por Agrippa (António
Macedo).
Foi com base nesta filosofia
alquímica, que me parece um tanto "maçónica" que eu estruturei o poema.
Baseei-me em tal teoria não funcionando tal teoria ou o pentagrama como fonte
inspiradora - como se fosse musa ou muso porque isso de musas e musos é coisa
em que não acredito e, como tal, para mim não existe. Agarrar-se a musas e
musos para escrever poesia é próprio dos fracos poetas que atribuem a
divindades aquilo que fazem mal ou fazem bem feito; é desvincular-se do que foi
criado por si atribuindo-o a intervenção de inexistente divindade. Antes,
baseio-me, apoio-me, assistem-me ao uso da palavra para fazer o poema, certos
ensinamentos colhidos de muitas leituras que entendo, pelo seu conteúdo, úteis
ao conhecimento; para fazer o poema, sirvo-me também daquilo que sinto com os
olhos - é com eles que penso, é através deles que busco aquilo a que chamais
inspiração.
Voltando a este poema para a
escrita de tão longa nota, foi depois de ter aprendido qualquer coisa (um quase
nada) das leituras que fiz de Almada Negreiros e Lima de Freitas - coisa
pequenina que isto do exotérico é só para crentes, coisa que eu não sou - sobre
a secreta origem e o simbolismo do Ponto de Bauhüte,
pensei: e por que não agarrar no corpo da mulher, enrolado em círculo sobre o
quadrado alvo do lençol e procurar o referido ponto no triângulo púbico? -
coisas de devaneio poético, claro, e ao poeta é permitido estes devaneios...
É evidente que tudo isto são divagações poético-filosóficas deste lunático poeta que estão a ler. Nada do que escrevi, no poema, tem a ver com o que ensina o livro "Almada e o Número" de Lima de Freitas e, menos ainda, com o "A ideia - o Ponto de Bauhüte e o mistério do Sexto Estigma" de António de Macedo. O que deixei aqui são apenas meras divagações poéticas.
É evidente que tudo isto são divagações poético-filosóficas deste lunático poeta que estão a ler. Nada do que escrevi, no poema, tem a ver com o que ensina o livro "Almada e o Número" de Lima de Freitas e, menos ainda, com o "A ideia - o Ponto de Bauhüte e o mistério do Sexto Estigma" de António de Macedo. O que deixei aqui são apenas meras divagações poéticas.
Perguntarão: então, se no poema há "ar, terra, água, fogo" onde está
a quinta essência? Eu digo: poeticamente, no meu poema assim estruturado, está
no interior oculto do corpo feminino - a altíssima perfeição (o nascimento),
logo evidenciado na 2.ª estrofe. E, aqui, "nascimento", seja um corpo
novo, significando renovação, conhecimento, sabedoria, ou seja a poesia, evidenciada na 7.ª estrofe - o misticismo
cabalístico do n.º 7 -, tão presente em nós, poetas: "quando os lábios /
na sede de se darem / se entregam / ergue-se o gesto que faz a poesia".
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